terça-feira, 5 de abril de 2011

Crônicas de Coletivo #2: A conversa e a cordinha.

É sempre um experimento social entrar nesse retângulo móvel, cheio de vidas e aromas. De manhã, são poucos os coletivos que têm espaço sobrando, só que as pessoas insistem em piorar a situação. Entram e ficam todos ali na frente, conversando com o motorista. Metódico, como só nós virginianos somos, faço de tudo para entrar, ir até o final do ônibus e ficar bem posicionado para quando a parada chegar descer sem constrangimentos.

Feliz sou quando consigo transpassar o caminho EM PAZ! Ultimamente as coisas têm piorado. Entra aí uma questão também política: a UnB abre 1000 vagas e forma 100 alunos por semestre. Isso tudo sem aumentar o número de ônibus e nem evitar o roubo de meu carros. #SIGNIFICA mais gente ocupando a parte frontal, perto do motorista, e dificultando a minha metodologia. Aqui cabe um adendo: no motor do ônibus só sentam as mais princesas, do contrário, o motorista é categórico: "É proibido sentar no motor, Senhora".

Chegando ao final do ônibus, a chance de alguém se levantar mais rápido é maior, o que geralmente faz com que eu vá sentado até o final do meu destino fatal. Sentado, entre uma cochilada, uma conferida no Twitter e as milhares de ideias que povoam meu afortunado cérebro, fico reparando naqueles seres. Existem das mais variadas espécies:

1) Seres que dormem, deixam o pescoço cair, acordam, voltam a dormir, deixam o pescoço cair.
2) Seres que leem.
3) Seres que andam em duplas e conversam moderadamente.
4) Seres que observam.

E os mais curiosos:
5) SERES QUE FAZEM AMIGOS NO ÔNIBUS E GRITAM. Confesso que esse parágrafo pode ser fruto de inveja à criaturas que não enxergam tosquices, não sentem vergonha alheia e falam alto, sem se incomodar com os demais. Eles conversam sobre o Big Brother, a novela, a loirinha que pega o 214, o cara do Leste, o motorista que acha que carrega porco, o aumento no salário, o chefe que não olha no olho... Sou muito curioso? Prefiro chamar de observador social, inteligentemente melhor assim.

A conversa em tom não moderado, acompanhada de assuntos íntimos, com personagens mal caracterizados me deixam um tanto quanto confuso. Acho bonita a interação despreconceituosa que envolve mães de família, jovens estudantes, trabalhadores, cobrador e senhorinhas. Nem tudo que acho bonito, interessante etc. está isento do sentimento de vergonha alheia que facilmente toma conta de mim. Ainda assim, sou mais o time que conversa no ônibus àquelas pessoas que puxam com o maior ódio do mundo a cordinha que sinaliza pedido de parada.

Pensando bem, essas pessoas devem ter ódio àquilo que tenho vergonha alheia.

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