Lucas Mansur, heterossexual, administrador de empresas, pedagogo e a favor da norma culta.
Antes de mais nada, uma breve apresentação desse que vos escreve. Acho também necessário falar que eu não votei na Dilma, nunca votei no PT e, desde que tenho uma consciência madura e crítica, sou contra partidarismo a todo o custo movido por fanatismo e paixão. Ter votado no José Serra nas últimas eleições não me impediu de torcer para que o Agnelo Queiroz (do PT) fosse Governador em Brasília. Não votei nele apenas por não achá-lo capaz, ainda assim, inúmeras vezes melhor que os seus adversários. Contudo, abster-se também é tomar uma posição!
Estou no fim do 5º semestre de Administração de Empresas e entrando no último de Pedagogia. Sou virginiano, atento a detalhes e corrijo quem fala ou escreve errado. Principalmente, família e amigos. Pretendo trabalhar com Marketing, não atuar em sala de aula. Tenho além da base teórica que a Universidade de Brasília deu, um senso crítico natural e que muitos (muitos!) de direita, esquerda, universitários, analfabetos, heterossexuais, homossexuais podem compartilhar.
No ano passado, uma professora comentou que só não votaria na Dilma por um motivo: o então ministro da Educação continuaria no cargo com a vitória da petista. Confirmou-se e Haddad continuou. Ela, à época, não entendia como um Governo que criticara tanto Paulo Renato e suas ações "capitalistas" e tidas como uma espécie de "terceirização" da Educação poderia manter um ministro que não conseguia coordenar sequer uma prova como o ENEM. Fico agora até me perguntando quais seriam as opiniões desta professora, também docente de Filosofia, sobre as duas últimas ações evidenciadas pela imprensa, programas de humor e discutidas nas rodas de bar. Falo do Kit Gay e do livro tratando o uso (ou não uso) da norma culta.
Posso me apoiar na frase que "de boas intenções, o inferno está cheio", porque acredito sim que ambas as ações têm como base comum intenções positivas e fundamentação nos melhores teóricos da Educação. Estudamos e é defendido no ambiente acadêmico que deve-se tratar os iguais como iguais e os diferentes como diferentes. Não se deve tampar os olhos, imprimir (pré)conceitos ou discriminar o outro, seja por sua orientação sexual ou pelo modo que fala. Discordo de um outro professor, esse economista, que falou: "os acadêmicos querem levar para as escolas o que lá é estudado", e ele vê isso como um erro. Apesar de concordar que a Universidade (falando especialmente da Faculdade de Educação da UnB) trata assuntos sob um prisma muito ideológico e pouco prático, existem sim temas que são facilmente aplicáveis, bastando "apenas" boa vontade, planejamento e discussões.
O MEC iria disponibilizar um material para as escolas públicas contendo vídeos com a temática da discussão da homossexualidade, trabalhando então a homofobia e o famoso bullying. Prática louvável! Visto que o preconceito não é genético e que a escola é elemento importante na formação da moral e valores. Até entendo as senhorinhas que falam que isso pode incentivar o homossexualismo. São as mesmas que culpam as novelas da Globo pelo número de gays e ignoram os padres pedófilos. Chamemos isso de ignorância, valores, religiosidade, enfim... O que coloco aqui é que sou a favor da NÃO DISTRIBUIÇÃO desse kit, assim como aconteceu. Não a favor do que o Bolsonaro defende! Agora vem a enxurrada de opiniões pessoais: achei os dois vídeos agressivos. Chamem de hipocrisia, preconceito ou o que for. As próprias aulas de educação sexual, por exemplo, são tratadas cheias de dedos. Defendo que o tema seja AMPLAMENTE discutido, de uma forma suave e, ainda assim, com uma abordagem pontual e de resultado. Eu mesmo consigo pensar em outro tipo de campanha, mas isso é trabalho!
Agora falemos de um ponto menos polêmico e discutido às vistas de conceitos superficiais e que pouco contribuem para a discussão. O livro que foi ADOTADO pelo MEC e diz que é correto falar com erros de concordância, dependendo da situação, tem, novamente, uma ótima intenção. O Brasil é um país com proporções continentais, existem diversos brasis distribuídos por aqui. Isso falando de cultura, cores, paisagens, clima e até no modo de falar. Baianês, minerês... Todas as variações lingüísticas (regionalismos também) unidas por um único idioma: o português. O professor em sala de aula não pode condenar um aluno filho de pais mineiros que fala diferente dos colegas gaúchos, por exemplo. Uma pessoa formada não pode exigir de uma outra que mal foi alfabetizada um idioma impecável. Não temos a obrigação de saber como se lê palavras em outros idiomas; aceita-se que se fale o que aqui é escrito como aqui se lê.
O problema todo do livro (fora outros como a posição política expressa sem critérios, apenas no partidarismo) está em não incentivar o uso da norma culta, está em colocá-la apenas como "adequada em certas ocasiões", para que que o falante não seja VÍTIMA de preconceito. No vídeo abaixo (repleto de excelentes falas), pontuo a seguinte: a escola é o lugar onde a criança deve aprender, entre milhões de coisas, como se fala a nossa língua materna, da maneira como foi construída (a norma culta). O linguajar da Internet, será nela aprendido. Falar de maneira informal, aceitando erros ou imprimindo regionalismos também se aprende na vida, no dia-dia, na transmissão de cultura que acontece a cada ato humano. Corrijo-me: a escola deve sim trabalhar a questão da aceitação do diferente, do outro... assim como anteriormente falado.
O que fica claro é que há um avanço na história da Educação, ao contrário do que retrógrados (o vilão Bolsonaro e as amáveis senhorinhas) podem afirmar. O MEC sinaliza para aquilo que há anos já vem sendo pensado, não só ações pontuais ou programas de Governo. Só que não adianta querer avançar se isso será feito atropelando o que deve ser mantido ou derrapando em um caminho que acaba na contramão. As ações devem ser bem pensadas e discutidas! Este texto ter sido escrito, você ter chegado até esse parágrafo e toda a sociedade atenta aos dois temas é um avanço. A discussão gerada é um avanço. Fica aqui a torcida para que sejamos todos ouvidos e que a história seja construída pautada em uma sociedade diversa. Não falo da sociedade brasileira, falo da mundial. Nossos problemas podem até ter um jeitinho brasileiro que complica muitas coisas, mas a discussão filosófica e a raiz de tudo que vem sendo discutido está presente no planeta inteiro. Também não são assuntos novos, são características essencialmente humanas. A diferença é que o diferente (todos nós) passou a requerer aquilo que lhe é o maior direito: ser tratado como igual (como ser humano!).
Depois desse texto mais polêmico que MAMILOS, veja mais: A semana em 3 parágrafos.
O último texto publicado foi: Dica: Osama e meu amigo cineasta.
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